domingo, 27 de junho de 2010

Cineclube Galinho do Barão – CGB

COMISSÃO FLUMINENSE DE FOLCLORE
CFF
Filiada à Comissão Nacional de Folclore/IBECC/UNESCO
CNPJ: 05043975/0001-10


Endereço: Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena. Rua Vinte de Abril, 14 Campo de Sant’Anna, Centro, Rio de Janeiro – RJ Cep: 20231-240
Correio Eletrônico: comissaofluminensedefolclore@yahoo.com.br




MOSTRA PERMANENTE: “CENAS E ENCENAÇÕES A PARTIR DO CINEMA E DO TEATRO POPULAR”

Objetivo: Discutir as relações da Cultura Brasileira com o teatro, o cinema e a performance tendo como foco a Cultura Popular e o Folclore, e como base prioritária o Cinema Brasileiro. Há a possibilidade de investidas no cinema estrangeiro quando o tema e/ou o problema da obra cinematográfica forem o teatro.

Metodologia: Exibição de filmes nacionais ou estrangeiros, estes últimos quando tratarem do teatro, seguidos de debate com os autores e/ou convidados. As exibições e debates serão seguidas de apresentações de Mestres e Brincantes da cultura popular, sempre que possível. A proposta é abordar a relação entre as linguagens do audiovisual e a produção teatral como performances oriundas de encenações e cenas das manifestações da cultura popular e do folclore com ênfase no teatro popular.

Sessões aos sábados às 18 horas – TEATRO LUIZ PEIXOTO

terça-feira, 23 de setembro de 2008

domingo, 7 de setembro de 2008

A CASA DA FLOR: UMA ARQUITETURA POÉTICA


É difícil classificar ou analisar a casa da Flor: ela subverte as normas estabelecidas de produção estética. Os estranhos materiais usados e o magnífico resultado obtido com os arranjos ornamentais que cercam toda a casa fogem aos padrões convencionais da arquitetura e da arte. Mas “é talvez o que o fantástico significa: ser tão excitante ou estranho, como ser indescritível”. Gabriel, como outros construtores de uma arquitetura não oficial, de uma arquitetura espontânea, criou formas ditadas por sua fantasia livre de modelos, de regras. Para isso, teve que se isolar, teve a coragem de construir para si a casa ideal, nascida somente de suas idéias, fruto da elaboração do consciente e da manifestação do inconsciente. Dizia ele, “uma casa feita de pensamento e sonho”. Para ele não havia distinção entre a vida e a arte, pois seu lar era ao mesmo tempo abrigo e uma obra de muita sofisticação plástica. É a “arte concretizada” idealizada por Mondrian. Para o nosso artista intuitivo, a arte fazia parte do fluxo da vida, era mais um respirar natural do que uma atitude de exceção. Ele próprio se referia à habitação como sendo “uma obra da natureza, uma casa franca sem mistérios: o segredo ali é o ar livre”.
Gabriel era considerado - e talvez ainda seja – como excêntrico, tornou-se mesmo um solitário, um ermitão, já que o mundo que o cercava não podia compreendê-lo, não podia entender o que fazia. Isolado, encontrou uma maneira natural de viver, de poder expressar seus sentimentos livremente, de seguir seus desejos e criar à sua maneira. Seus sonhos, tornados realidade na pedra, nos cacos, no cimento, na madeira, nos resíduos industriais, são a prova de que é possível conviver concretamente coma a poesia.
Irmão espiritual de Gabriel, outro grande artista e mestre da arquitetura fantástica é o modesto carteiro Ferdinand Cheval, que também inspirado em sonhos, construiu para si um enorme palácio. Cheval também orgulhava-se de sua obra, que dizia ser o fruto de um homem que fez tudo sozinho. Nek Chand, nascido na Índia, operário de construção e reparação de estradas, construiu um reino fantástico, saído de seus sonhos, dotado de montes e vales, quedas d’água e pontes, e figuras cobertas por mosaicos, no qual trabalhou sozinho durante oito anos. Tanto quanto Gabriel, Nek Chand sabia da beleza intrínseca dos materiais mais humildes, mesmos os rejeitados; também ele os recolheu – pedras, pedaços de cimento – e os reciclou, improvisando constantemente, também ele seguiram infalivelmente a natureza.
Sabemos que o“iletrado, naturalmente impregnado da experiência coletiva e da energia criadora dos seus ancestrais”, possui, em mais alto grau, as qualidades de instituição e da imaginação.
Como outra semelhança das duas obras, a teatralidade, concretizada no conjunto arquitetônico da Índia, em sua construção em diferentes planos, nos quais o visitante, para apreciá-la, é obrigado a caminhar devagar, a se curvar ao passar de um plano para o outro. Na casa da Flor, percebe-se uma intenção dramática por parte do autor, que como um excelente diretor de cena ou como legítimo representante do barroco, conduz a nossa emoção, num crescendo, mansamente, desde a chegada pela velha estradinha, quando é avistada no alto da construção. Sobem-se os degraus, largos e baixos, lentamente, para melhor apreciar as esculturas do jardim. Quando termina a escada, aumenta o número de enfeites. Surgem os bordados das paredes e do muro, bizarro, e diferente. Caminha-se devagar, tantas as surpresas. Contorna-se o corredor e, a seguir, um lugar para descansar, para respirar, para digerir o que foi visto: os banquinhos de pedras e ladrilhos, incrustados na parede e no muro. Chega-se à porta e a entrada na sala e acontece carregada de dramaticidade: depois dos olhos se acostumarem à escuridão, começam a aparecer, vagarosamente, como em um passe de mágica, as paredes, as coalhadas de enfeites, centenas de cacos coloridos aplicados numa decoração luxuriante. O efeito da passagem da luz intensa para a penumbra do interior e, em seguida, a percepção desta festa de cores e reflexos, formas e recortes, é de cortar a respiração, força-nos a ficar admirando tudo em silêncio. Gabriel sabia, ao afirmar que não desejava luz elétrica em casa, que a magia conseguida por este truque, estaria perdida com a chegada brusca e instantânea da luz.
Quem vê as imagens faz sempre uma associação ligando Gabriel ao grande mestre das formas orgânicas e fantásticas, o arquiteto catalão Gaudí. O estilo bizarro de ambos, “as formas orgânicas cristalizadas na cerâmica e nas esculturas”, o uso apaixonado dos cacos, o amor à natureza, na qual ambos se inspiravam, o fervor religioso, o misticismo, o celibato, todas essas coisas revelam dois espíritos em sintonia, separados por milhares de quilômetros. Um, com sólida formação erudita, em contato com as obras dos grandes mestres do mundo, de todas as épocas; o outro o artista pobre, que viveu isolado de tudo, despossuído, autodidata, mas que construiu também uma obra belíssima, impregnada de poesia e humanidade.
A criação de Gabriel possui uma qualidade ímpar: a perfeita integração com o meio ambiente. Está plantada harmoniosamente na encosta do morro, não se sobressai à natureza ao redor, ela se funde naquele espaço, não somente pela forma. Mas porque graças a um mimetismo singular, de alguns ângulos, as flores parecem mesmo mais algumas flores do jardim natural, agreste e muito colorido ao redor.
Uma Constatação surpreendente é a de que Gabriel, tal como um animal que usa o instinto para resolver o problema de iluminação e ventilação de sua toca, plantou as paredes em paralelo com as direções norte, sul, leste, oeste> Sem nenhuma experiência anterior, ele direcionou as duas portas de entrada para o leste, para o nascer do sol, pois assim ela se conservava fresca o dia todo. Os dois pontos de entrada da luz solar, mais a janela do depósito – voltada para o oeste, para o poente – colocada eqüidistante dos dois, têm com conseqüência uma distribuição equilibrada da luz. Eles iluminam o ambiente, o interior da habitação, mas protegem a câmara, o lugar de dormir, o ligar protegido onde se recolhia para descansar, o lugar mais escuro, próprio para o repouso.




Levy-Strauss classificou como bricoleur aquele que executa a operação que consiste em remendar coisas ou fazer objetos de pedaços de outros objetos. Segundo ele, caracteriza o bicoleur o fato de operar com materiais fragmentários, já construídos, ao contrário do engenheiro que para dar execução ao seu trabalho necessita de matéria prima. O bicoleur utiliza sempre meios e alternativas que evidenciam a ausência de planos pré- estabelecidos e não obedecem às formas adotadas pela técnica. Ele não fica subordinado à obtenção de matéria-prima e ferramentas. Ao contrário, usa a liberdade de sua fantasia para criar com o que consegue arranjar. Gabriel, como já vimos, recolhia os materiais pelo que podiam servir. Com esses elementos que possuía, ele fazia e refazia as combinações, usando sempre a imaginação. Observa-se grande variedade na composição desses conjuntos. Não há dois enfeites iguais. Os elementos de decoração iam sendo combinados pelo artista, à procura de simetria, de equilíbrio na distribuição das massas, da harmonia de cores e formas, à procura da beleza. Não importava a distinção primitiva dos elementos usados, o que lhe interessava era o resultado final. Procurava sempre novos significados para esses elementos – as lâmpadas, os azulejos, foram sendo aplicados com outras intenções – que iam produzir resultados brilhantes e inesperados. A poesia bricoleur vem de que ele não se limita a executar, a falar por meio das coisas. Sem jamais completar seu projeto, o bricoleur põe nele sempre algo de si mesmo.
Quero também deter-me um pouco na discussão a respeito da sabedoria das construções da terra, já que a Casa da Flor se enquadra nestas características – parte dela feita de pau-a-pique, com seus bancos e armários de alvenaria, sensualmente aplicados, sua bela e profunda ornamentação, organicamente associada às paredes, com total unidade de matéria.
O homem do povo, utilizando a terra gratuitamente da natureza, “consegue adaptá-la, em múltiolas variações, às condições peculiares do meio social e econômico, geográfico e climático”. Por interesses econômicos, entretanto, essas tecnologias, mais primitivas e sábias, são olhadas, porém pelas elites - que privilegiam o concreto, o aço, o alumínio – como sinônimo de pobreza, e as virtudes da inteligência de seu povo são desprezadas e não reveladas, principalmente aos que mais precisam conhecê-las: engenheiros e arquitetos. Segundo Jean Dethier, em seu livro Arquiteturas de terra – ou o futuro de uma tradição milenária, as “tecnologias tradicionais da terra são, no entanto universais, em um terço da população mundial chega a se utilizar delas, tanto em regiões quentes e secas, quanto nas chuvosas e úmidas”.
Utilizada também para o revestimento das paredes, a terra crua proporciona ao homem o exercício da criatividade individual em sua decoração. Em muitos países do mundo, mas principalmente no continente africano, o tratamento das fachadas, executado com evidente prazer por segmentos tradicionais da população, aparece como verdadeira linguagem plástica “abstrata, geométrica, simbólica e figurativa”. Assim, a arquitetura torna-se, ao mesmo tempo, a expressão de um profundo impulso criativo e um espetáculo de prazer. Natural que à esta altura lembremos as próprias palavras de nosso artista: “De noite, acendo o lampião, me sento nessa cadeira, ó que vida, ó que alegria para mim. Quando eu acendo a luz, e vejo tudo prateado de noite, fico tão satisfeito! Me conforta... Tudo caquinho transformado em beleza!”
Que dizer ainda da opção de Gabriel pelos cacos? Da metamorfose do lixo em produto artístico, da arte marginal que ele tão bem representa? De seu trabalho de vanguarda no inicio do século, isolado num recanto da América do Sul, enquanto na Europa, na grande pólo irradiado de movimentos artísticos, na mesma época, artistas de renome revolucionaram os conceitos de arte até então vigentes, transformando o objeto inanimado em material precioso para a criação artística? De sua função arquetípica, qual verdadeiro alquimista, que transformava o feio, o sujo, o estragado, em flor, flor/cálice, símbolo maior da ligação do humano com o sagrado?
O homem do povo, sempre reprimido por grandes dificuldades econômicas e extremamente ligado às tradições de sua cultura, já tem incorporada em si a atitude de utilizar o que tem à mão, seja material fornecido pela natureza ao seu redor como ainda as sobras de produtos industrializados, para criar toda espécie de utilidades de que precisa, desde sua moradia até o brinquedo de sua criança.
Simples sacos plásticos de leite servirão para fabricar uma sacola, um pneu de caminhão transforma-se em lata de lixo, um tubo de PVC vira flauta para o músico da Folia de Reis, retalhos de pano montarão uma encantadora bruxinha. Milhares de peças encontradas em qualquer feira ou mercado popular e nas casas de nossa gente mais simples reafirmam essa tendência, sempre presente na arte de nossa gente e no artesanato folclórico.
Nosso Gabriel, porém, com o insight de 1923, que resolvia o seu problema de obtenção de material, chegou ao topo de uma função mais nobre – a arte – ao emprego daquilo de que ninguém quer saber. A casa da Flor nos aparece assim como uma solução poética para o desafiante problema de nossa era - o que fazer com o acúmulo desordenado do lixo orgânico e industrial, que ameaça soterrar a todos – e torna-se símbolo da coragem, da determinação e da criatividade necessárias para superar momentos de grave crise.
Os artistas plásticos vão sempre expressar o espírito de sua época. Picasso, Miró, Braque, Kandinsky, Paul Klee e outros, no inicio do século, começaram a utilizar detritos recolhidos do lixo. Essa valorização doa materiais grosseiros ao nível da arte nada mais era do que o velho princípio alquimista, segundo o qual o objeto precioso que buscamos será encontrado na matéria mais vil.
A i déia de que as coisas tem uma alma secreta e que, portanto, um objeto significa “muito mais do que o olho pode perceber” foi compartilhada por muitos artistas. O pintor Kandinski chamava a atenção para o aspecto fantasmagórico do objeto comum, que “só os raros indivíduos vêem nos seus momentos de clarividência e meditação metafísica”.
Dizia ele: “Tudo o que esta morto palpita. Não apenas o que pertence a poesia, às estrelas, à lua, os bosques e às flores, mas também um simples botão branco de calça a cintilar na lama da rua... Tudo possui uma alma secreta, que se cala mais do que fala”. ‘É caco, é caco, mais é coisa de muita importância”, já dizia o nosso artista.




Surpreendentemente, pelo isolamento em que sempre viveu, Gabriel faz parte desse grupo inovador para sua época, revolucionário mesmo. Por ter optado em 1923 pelo material mais grosseiro, mais inútil, feio e sujo para chegar à beleza, ele nos mostra que possuía, sem dúvida, a autenticidade, a honestidade, a coragem, enfim, as qualidades inerentes ao verdadeiro artista. Viveu mergulhado em si mesmo, nas profundezas do seu sonho e de sua fantasia, na reflexão sobre a vida e o mundo. Ser humano integro e forte, projetou sua intensa luz interior em sua criação poética. Sua casa, bordado com milhares de pedaços de coisas, achadas numa garimpagem que durou 62 anos, ou doadas de presente por conhecidos e parentes, sua casa nos aparece, assim, impregnada de sentimentalidade, é um verdadeiro relicário afetivo.
A casa é o seu coração que pulsa ardente e amoroso, e que ele generosamente nos oferece, ao dizer: “Essa casinha está aqui, a patente é de todo mundo”. Os belos ornamentos da Casa da Flor são, na verdade, as imagens do inconsciente de um homem lúcido e os reflexos luminosos de uma alma poética e corajosa, são as flores que resultaram da boa digestão de tantos ingredientes dolorosos e difíceis, “tudo caquinho transformado em beleza.
Texto e Fotos Amelia Zaluar

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Próxima Reunião da CFF

Amigos:

Reunião da CFF

Dia 8 de setembro de 2008 - segunda-feira

Horário 15 horas

Local: Biblioteca Estadual- (Av.Pres.Vargas)

domingo, 31 de agosto de 2008

Participamos o resultado da AGO/CFF de 27/08/2008, realizada na Biblioteca Pública Estadual-Av. Pres. Vargas, 1261, Centro, nesta cidade, quando foi eleita a Diretoria da Comissão Fluminense de Folclore para a gestão 2008-2012:
Presidente de Honra: Luiz Antonio PimentelPresidente: Afonso Furtado
1° Vice presidente: Nicolas Alexandria
2° Vice presidente: Amélia Zaluar
Secretária: Norma Nogueira
Vice secretária: Ana Paula Rossi
Tesoureira: Katia Iunes
Vice tesoureiro: Renato Barreto

CONSELHO:
Região Metropolitana: Delzimar Coutinho (Rio de Janeiro)
Jota Rodrigues (Nova Iguaçu)
Rui Aniceto (São Gonçalo)
Região Baixadas Litorâneas: Sylvio Eduardo Corrêa-Pardal (Araruama)
Região Sul: Marcelo Tavares (Angra dos Reis)
Região Noroeste: Antonio Faria Tomás-Nico (Santo Antonio de Pádua)
Região Norte: Simonne Teixeira (Campos dos Goyutacazes)

Rio de Janeiro, 27 de agosto de 2008

Pesquisa Sobre Folias de Reis


Continua em andamento a pesquisa sobre a memória das Folias de Reis Centenárias da região metropolitana do estado e o artesanato de suas bandeiras e das máscaras dos palhaços de Reis, do projeto premiado com o Prêmio Culturas Populares 2007- mestre Duda, para a CFF. O trabalho já foi terminado com a Folia de Reis Manjedoura da Mangueira, em Vila Kenedy - três visitas- com a Folia de Reis Sete Estrelas do Rosário de Maria, de Mesquita - duas visitas e uma ida, com o grupo, à Vassouras numa festa de arremate, e está sendo continuado com a Folia de Reis Reisado do Oriente, de Duque de Caxias,com quem já estivemos numa apresentação do grupo no CCBB. As entrevistas e apresentações estão sendo gravadas, fotografadas e filmadas.
Fomos adiante com a idéia - que é parte do projeto- de homenagear o Gigante- palhaço de Reis, artista plástico e poeta, falecido recentemente. Reunimo-nos com as pessoas interessadas para traçarmoa os primeiros passos do trabalho e fomos à casa do artista para entrevistarmos sua filha e fotografarmos suas lindas máscaras. Breve daremos continuidade ao projeto.


Texto e Fotografias de Amelia Zaluar